Manifesto

MARCHA EUROPEA POR UMA NOVA CULTURA DA ÁGUA

MANIFESTO

As organizações que convocam esta marcha reivindicam um Plano Hidrológico para Espanha que vá mais longe do que a actual política hidrológica, administre a procura deste recurso cada vez mais escasso e o distribua de forma sustentável de acordo com a Directiva Quadro da Água recentemente aprovada na União Europeia

Infelizmente o PHNE que o governo do Partido Popular nos impôs pressupõe:

1)      Uma política baseada no crescimento contínuo da oferta da água, que terá como consequência uma sobre-exploração dos ecossistemas hídricos e servirá apenas os interesses especulativos que se movem impunemente na ilegalidade.

2)      A continuidade de uma abordagem ultrapassada de «Oferta», intensamente subsidiada com dinheiros públicos, baseada na construção de grandes obras hidráulicas: mais de uma centena de novas grandes barragens, canais e transvases, que, como o injustificado transvase do Ebro, teriam graves impactos sociais, culturais e ambientais

3)      Ampliar as diferenças económicas e sociais entre diferentes zonas, consolidando um ordenamento do território cada vez mais desequilibrado e injusto entre o interior e o litoral, entre a montanha e a planície, entre a cidade e o meio rural

4)      Fomentar, em áreas com uma grave escassez de água, uma procura insaciável que não poderá ser satisfeita, criando assim problemas sócio ambientais a médio e longo prazo. Justificar o aumento da procura através do apelo à solidariedade é inaceitável uma vez que ele é na realidade movido por interesses especulativos que exigem sacrifícios aos mais desfavorecidos.

5)      Promover a deterioração ambiental dos rios, lagos, deltas, zonas húmidas, bosques de ribeira, montanhas… sem ter em conta que a água, além da sua importante função económica, é a base da vida de todos os ecossistemas e um elemento essencial da nossa saúde e bem estar.

6)      Esta Plano pressupõe impulsionar a comercialização da água como um novo princípio de gestão, o que de resto já fora imposto na Reforma da Lei de Águas da passada legislatura PP e CIU. No nosso ponto de vista, a água deve permanecer um recurso público da sociedade no seu conjunto e ser gerida de forma a defender o interesse geral das populações.

7)      Subestimar a crescente redução dos recursos hídricos em consequência das alterações climáticas, iludindo-se a responsabilidade de conceber um futuro sustentável, o que exige prudência e realismo.

Apesar de amplas mobilizações sociais exigirem que o Plano seja retirado, o Governo com o apoio da CIU e da Coligação Canária, ignorou as críticas e alternativas propostas por vastos sectores sociais, políticos e da comunidade cientifica

A aprovação deste Plano pressupõe por outro lado uma grave irresponsabilidade política porquanto tenta iludir, no período de transição que a UE oferece para transpor a nova Directiva Quadro da Água, a coerência, os novos critérios de gestão e os objectivos impostos pela Directiva. Por outro lado, o Governo, na sua azáfama afim de impor uma apressada política de factos consumados, prejudica gravemente as diversas Directivas já vigentes desde há anos, como a Directiva Habitats e a Directiva Aves, ignorando ainda a iminente aprovação da Avaliação Ambiental Estratégica

Perante esta situação torna-se imprescindível abrir um amplo debate social com garantias de participação em pé de igualdade de todos os territórios e sectores afectados, impulsionando a democratização real dos orgãos de participação relacionados com a planificação e gestão da água em Espanha.

Na convicção de que, embora em níveis diferentes, o problema da democratização e da participação dos cidadãos é geral na Europa e certos de que este Plano é irrealizável sem participação financeira que Espanha espera obter dos fundos europeus, lançamos a iniciativa de MARCHAR DO DELTA DO EBRO A BRUXELAS numa MARCHA EUROPEIA POR UMA NOVA CULTURA DA ÁGUA e em defesa de um desenvolvimento positivo da Directiva Quadro que permita:

1)      Uma planificação do uso sustentável dos recursos das diferentes bacias, baseada no conhecimento exaustivo dos consumos reais de cada actividade e na gestão conjunta dos recursos superficiais e subterrâneos

2)      Um uso racional da água baseado na poupança e na eficiência, reduzindo as percas nas redes de distribuição, fomentando o emprego de técnicas de regadio mais eficientes, a depuração e a reutilização das águas.

3)      A implantação efectiva da legalidade acabando com a sobre exploração, os esgotos incontrolados, as captações, arroteamentos e regadios ilegais com um modelo renovado de gestão pública de águas que acabe com o desgoverno e a corrupção.

4)      Um ordenamento territorial que impulsione um desenvolvimento sustentável, equilibrado e harmónico baseado na utilização responsável e solidária dos recursos existentes.

5)      A recuperação e conservação dos nossos ecosistemas hídricos, que após anos de agressão e negligência se encontram muito deteriorados, assegurando a redução da poluição, a real protecção do domínio público hidráulico, a restauração hidrologico-florestal e a conservação dos nossos aquíferos e ecossistemas de superfície, prestando especial atenção aos últimos rios e zonas húmidas ainda em bom estado de conservação

6)      A planificação integrada entre Espanha e Portugal das bacias hidrográficas comuns tal como exige a Directiva Quadro

Vários estudos económicos realizados por especialistas independentes demonstram que os custos deste Plano são muito superiores aos benefícios anunciados o que contraria o princípio da viabilidade económica defendida pela Directiva Quadro Europeia, uma vez que a sua execução só é possível com forte subvenção europeia. Tal subvenção, não só impulsionaria o maior atentado ecológico jamais aprovado em Espanha, como atentaria contra as leis e políticas europeias em vigor, em beneficio, uma vez mais, das empresas construtoras, das companhias de electricidade e das multinacionais de gestão de águas que, através da comercialização das águas subvencionadas, mais não fariam do que promover os negócios especulativos que o modelo de desenvolvimento insustentável fomentado pelo Governo patrocina.

Por tudo isto as organizações que convocam esta Marcha Europeia propõem:

1-    O bloqueamento dos fundos europeus para os projectos mais importantes do PHNE

2-    Fomentar a participação dos cidadãos e a educação pela NOVA CULTURA DA ÁGUA na Europa, democratizando a gestão das águas na perspectiva do Desenvolvimento Sustentável

3-      Desenvolver em toda a sua profundidade a Directiva Quadro da Água na UE, a partir da estrita aplicação do principio da NÃO DETERIORAÇÃO durante período de transposição.

MarchaBruselas.com